Suspensão do Brasileirão e debates políticos direcionam debates sobre enchentes no RS

Figura  01 –  Grafo de de grupos de palavras sobre a emergência climática no RS a partir de 7.515 posts publicados no X (ex-Twitter).

No Twitter/X, o 6º Diagnóstico Diário de Detecção de Narrativas Climáticas, referente às publicações da segunda-feira (13), foi marcado por divulgação de ações solidárias, dilemas econômicos em relação à suspensão da dívida do Rio Grande do Sul com a União e comentários sobre o possível adiamento do Campeonato Brasileiro de Futebol.

A amostra coletada com o uso dos termos ‘Rio Grande do Sul’ e ‘RS’, com o auxílio do software Ford-Labic e o método de clusterização de palavras, contou com 7.515 publicações e gerou mais de 3.302.919 curtidas e 547.675 retweets catalogados nos grupos da figura acima.

É possível observar nove grupos distintos conectados, que formam um Mapa das Narrativas Climáticas presentes na plataforma no recorte selecionado. O primeiro se volta para uma narrativa de ajuda. O segundo grupo trata-se de uma narrativa informativa sobre as enchentes. Sobre o terceiro grupo, os sentidos são sobre arrecadações. Uma narrativa sobre os dilemas econômicos do RS é tratada no quarto grupo. No quinto, a paralisação do Brasileirão ganha foco. No sexto, os comentários abordam, principalmente, a questão das fake news. No sétimo, a narrativa retorna ao tema da calamidade pública. No oitavo grupo, as ações governamentais se tornam centrais na conversação da plataforma. Por fim, o nono grupo aborda a doação do apresentador Luciano Huck.

Grafo 01 Figura 01

Ao observarmos o grafo 01 é possível identificar uma narrativa de ajuda ao próximo para as vítimas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Um léxico voltado a ações solidárias e doações é notado, principalmente, pelo uso de palavras de ordem: Ajudar, Salvar, Arrecadar e Auxiliar. A discursividade presente neste grupo reitera a lógica de que os indivíduos comuns, indo além das ações governamentais, precisam também se movimentar para que haja uma resolução ou abrandamento da calamidade, o que é expressado por diversos pares vocabulares, como ‘rio-ajudar’, ‘ajudar-vitimas’, ‘rio-doacoes’, ‘rio-acao’ e ‘ajudar-doacoes’. Portanto, é visto aqui uma representação do fluxo conversacional que expressa a necessidade de ação comunitária da população.

A narrativa apresentada pode ser melhor representada se olharmos algumas publicações de alguns dos atores presentes na plataforma, como é o caso do Coordenador Geral do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan Santos, que aproveitou a onda de doações para enfatizar a importância do movimento. “Estamos montando um partido, a operação mais custosa e difícil de todas, e ainda dá tempo de montar uma logística de doações – restaurante – entregas no RS”. O sentido de união e ajuda ao próximo também foi reforçado pelas diversas publicações de times de futebol que propuseram ajuda ao RS, como foi o caso do perfil da torcida organizada do Flamengo, Urubuzada (@ubzoficial), ao enviarem mantimentos para as vítimas.

Grafo 02 Figura 01

Podemos observar na grafo 02 uma narrativa informativa. Podemos observar alguns grupos de léxicos que indicam dois principais temas abordados no grafo. Os termos que destacamos são os pares “porto-alegre”, “porto-guaiba”, “porto-canoas”, “porto-fantástico” e “porto-pimenta” e “porto-pt”. Ao analisarmos compreendemos que a dinâmica de circulação de informações referentes ao aumento do nível de água do lago Guaíba, que banha a região de Porto Alegre, e as matérias que foram veiculados pelo programa Fantástico no domingo (12). 

O retrato das matérias sobre o aumento do nível da água se deu dentro desse cluster. Desse modo, as postagens que retratam a situação atual de Porto Alegre e mencionam o lago Guaíba ganharam maior repercussão. Destacamos o post da deputada estadual do Rio Grande do Sul, Laura Sito: “Porto Alegre acaba de superar a enchente de 1941 pela segunda vez em apenas dez dias com repique do Guaíba. Esse é o tamanho da crise que ocorre no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre. Infelizmente, o pior ainda não passou. Cuidem-se!”. Outro tipo de post relevante no cluster analisado refere-se também à informações de Porto Alegre, contudo apresentam o ministro-chefe da secretaria de comunicação social (Secom), Paulo Pimenta do Partido dos Trabalhadores, desmentindo informações sobre supostas doações que não estariam chegando ao estado do Rio Grande do Sul. Como exemplo apontamos, “DENÚNCIA!!!!Mais um flagrante de confisco de caminhões com donativos rumo ao Porto Alegre – Rio Grande do Sul. Funcionários Públicos pedindo documento das doações e do abrigo que vai receber, depois Pimenta fala que é Fake News. Canoas #GloboLixo”. 

Analisando o cluster compreendemos que a dinâmica de informações sobre a situação da cidade de Porto Alegre foi largamente repercutida na rede nesta segunda (13) devido às reportagens que foram ao ar no programa Fantástico deste último domingo (12). Entretanto, na narrativa apresentada um ruído polarizador se torna persistente. Diversas menções ao ministro-chefe da Secom, presente nos termos “paulo”, “pimenta” e “pt”, se destacam em conjuntamente à posts bolsonaristas com a “#GloboLixo”.

Grafo 03 Figura 01 

Percebemos no grafo 3 uma relação recorrente de RS com hashtags #forçars, #todospelors, #unidospelors em interação com os temas sobre recursos e superação a partir das interações entre “dinheiro-rs” e “passar-rs”, respectivamente. Percebe-se uma presença ainda intensa da discussão sobre o papel do governo federal sobre recursos a serem destinados para que o Rio Grande Sul possa lidar com a tragédia, tanto na gestão da crise quanto no processo de reconstrução. Um dos maiores números de retweets partiram de contas oficiais ou de entidades da base de apoio ao governo federal que replicaram o mesmo texto: “o Governo Federal não mede esforços para salvar vidas e auxiliar na reconstrução do estado”. Nota-se a busca em construir uma percepção de que o governo federal não deixará o Rio Grande do Sul não ficará desamparado. Outro post que indica esse movimento é o da deputada Federal Maria do Rosário: “O presidente @LulaOficial assina hoje uma medida crucial que suspende a dívida do Rio Grande do Sul com a União por três anos. Este é um passo significativo que pode significar um alívio de R$ 11 bilhões para a reconstrução do RS e da vida das pessoas”. A suspensão da dívida do Estado do Rio Grande do Sul com a União por três anos também foi um tema do campo lexical”dinheiro”  muito retweetado, principalmente por perfis mais alinhados ao governo federal.    

A recorrência do tema sobre a superação da tragédia ganha presença sempre associando uma tríplice relação entre a ideia de que “vai passar”, “força do povo gaúcho” e “ajuda dos voluntários”. A relação “superação-recursos” também apresentam uma recorrência em mensagens como a da conta @MAB_Brasil: “O dia a dia das ações de solidariedade no Rio Grande do Sul mostram a capacidade do nosso povo de construir saídas mesmo nos momentos mais difíceis e superar todas as dificuldades para ajudar.”

Um dos posts com mais interações foi o de @realmacosta, com tom de indignação pelo fato da ANAC ter proibido o uso de drones ao mesmo tempo que o influenciador Whindersson Nunes se propôs a oferecer drones para auxiliar nas ações de ajuda ao Rio Grande do Sul. Ainda neste campo das celebridades, observou-se que o vencedor do Big Brother Brasil 2024, Davi, movimentou uma debate onde críticos e apoiadores se posicionaram sobre sua atuação na crise gaúcha em uma discussão sobre o uso do pix pessoal para arrecadar doações e sobre uma possível tentativa explorar a tragédia para capitalizar sua imagem. Uma das manifestações de apoio veio da conta @jessicacoments: “Pode ter certeza de uma coisa, se o Davi tiver que prestar contas em juízo ele vai, mas ele vai de cabeça erguida, sem medo algum. Já comentários mais críticos podem ser ilustrado pelo que foi postado pelo portal de notícias Metrópoles replicando uma vídeo do programa Fofocalizando do SBT.

Grafo 04 Figura 01

Os sentidos presentes no grafo 04 são traduzidos como uma narrativa de dilema econômico na qual discute, principalmente, sobre a suspensão da dívida do RS à União proposta pelo Governo Lula, nesta segunda-feira (13), o que geraria uma margem de mais de R$11 bilhões para as obras de reconstrução do estado. 

No contexto do desastre climático, os comentários no X tiveram o intuito de repercutir a decisão governamental e disseminar a informação; os pares vocabulares seguiram a mesma lógica, a exemplo de ‘divida-suspensao’, ‘divida-uniao’, ‘bilhoes-reconstrucao’, ‘lula-bilhoes’ e ‘presidente-reconstrucao’. Em menor escala, outro foco nas publicações foi o juízo de valor feito por alguns atores que avaliaram positivamente a decisão, julgando como acertada. Destacamos também um teor paternalista com a figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que surge em comentários que o classificam como “pai” do Brasil.

Grafo 05 Figura 01

O grafo 05, destaca uma narrativa de paralisação do campeonato brasileiro de futebol. Podemos observar uma mobilização entre os times, técnicos,jogadores e torcedores para a paralisação do brasileirão em solidariedade à crítica situação das enchentes no Rio Grande do Sul. Como reflexo, ao analisarmos o cluster 05, os termos mais relevantes na rede são “brasileiro”, “catastrofe”, “desastre”, “campeonato” e “paralisacao”. Assim, observamos a repercussão da organização de diversos atores importantes dentro do cenário futebolístico nacional, principalmente a ação dos próprios times. Apontamos as seguintes postagens: “Em solidariedade ao Rio Grande do Sul Craque do Cruzeiro, Matheus Pereira defende suspensão do Brasileirão: ‘Parar e voltar com todo mundo 100%’”, “Corinthians é a favor da paralisação do Brasileirão por causa da situação do Rio Grande do Sul. A informação foi dada por Augusto Melo, presidente do clube paulista. @UOLEsporte” e “Clubes que pediram paralisação devido à Copa América: Athletico, Atlético Mineiro, Bragantino, Flamengo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo, Vasco. Do(s) clube(s), o único que apoiou a paralisação do Brasileirão após a tragédia no Rio Grande do Sul foi o Atlético Mineiro.”

Grafo 06 Figura 01

A presença de fake news prejudicando as ações na enchente do Rio Grande do Sul domina o fluxo de postagens representado pelo grafo 6. As correlações mais presentes são “fake news-bolsonaristas” reflete que as postagens tendem a atribuir aos perfis ligados ao ex-presidente a autoria das desinformações sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. O apontamento sobre o crescimento das fake news é tema de muitas postagens alertando para os possíveis prejuízos na gestão da crise. Pode ser identificado também manifestações que consideram exagero a preocupação com o combate a fake news diante da crise no sul, como a postagem como manifestado no seguinte tweet: “Por que tentam transformar fake news em problema maior do que enchente. Com o Rio Grande do Sul debaixo d’água, o grande problema são as fake news? Para certa imprensa, sim. Ideologia e partidarismo explicam” (@mariosabinof, via @Metropoles). A relação “fake news-mortos” aparece em postagens que de forma recorrente acusa as autoridades públicas e os veículos de mídia mais hegemônica de esconderem o verdadeiro número de mortos.

Ainda no fluxo de comentários sobre fake news se identifica a repercussão das ações judiciais para tentar combater a desinformação no contexto da crise do Rio Grande do Sul:  “‘Não é censura’, afirma Ministro do Governo Lula que acionou a Polícia Federal por supostas fake news a respeito da tragédia no Rio Grande do Sul. Pimenta alega que influenciadores da extrema-direita ‘nunca botaram os pés no Rio Grande do Sul’ e estão produzindo notícias falsas para prejudicar os trabalhos de resgate em prol ao povo gaúcho.” (@jornalrazao)

Grafo 07 Figura 01 

No grafo 07 são refletidas as narrativas de calamidade pública compartilhadas na plataforma, que abordam a realidade das cidades e famílias atingidas pelas chuvas e como estão dispostos os serviços de saúde, os abrigos e como as vítimas podem ser ajudadas através de doações e ações solidárias. Os pares vocabulares nos ajudam a identificar essa narrativa de consternação pelas duplas dispostas, como ‘atingida-areas’, ‘cidades-afetadas’, ‘saude-segurança’, ‘abrigos-mulheres’ e ‘cidades-inundadas’. Outro sentido que aparece é o de ruído entre as vítimas e as prefeituras; os termos ‘burocracia’, ‘pedidos’ e ‘indignados’ aparecem diretamente conectados com ‘prefeitos’, o que sugere o sentimento de indignação da população com as instâncias municipais.

Na amostra coletada foi possível observar certos comentários que corroboram com a narrativa supracitada, como o caso noticiado por veículos de comunicação no X sobre o auxílio de R$5 mil a 100 mil famílias afetadas nas enchentes proposto pelo Governo Lula. Por outro lado, a perspectiva de ajuda colaborativa do povo pelo povo também aparece quando alguns atores disseminam informações úteis para as vítimas, como uma campanha do agasalho para quem não tem condições financeiras de comprar roupas de frio.

Grafo 08 Figura 01

O presente cluster demonstra uma narrativa das ações governamentais, assim como a repercussão de tais. Destacamos o conjunto de termos “toneladas-alimentos”, “toneladas-donativos” e “navio-guerra”. Ao analisarmos as postagens concluímos que o presente clusters refere-se à chegada do maior navio de guerra da América Latina que chegou ao estado do RS, em missão humanitária com toneladas de alimentos e donativos às vítimas. As postagens apresentam certa polarização, mas o foco ainda se direciona ao informativo sobre a ação do governo federal. Destacamos tais postagens que retratam o tipo de post do cluster “Como é bom ter Presidente. Lula enviou o maior Navio da Marinha para levar 154 toneladas de donativos para o Rio Grande do Sul e soldados para os Resgates. O Gado pira, pq a Marinha que antes dava golpe, com o Lula Salva vidas. O Bolsonarismo mata. Lula Salva”, “Navio leva ajuda especializada, como equipamentos, remédios e mantimentos para a população atingida pelas cheias no Rio Grande do Sul; veja na reportagem de @renataceribelli” e “A que Ponto chegou a Imprensa Oficial do Lula!!!! Precisam ficar em Navio ou dentro de Cozinha!!!…A globo tá passando mal no Rio Grande do Sul.”

Grafo 09 Figura 01

No grafo 9 indica a presença de transmissões ao vivo da crise, tanto no campo da cobertura jornalística quanto nas ações que visam arrecadações para ajudar os afetados pela enchente. Vale destacar que os chamados para a transmissão ao vivo, por meio dos pares vivo-assista, nas cobertura jornalísticas apela para uma forma de narrativa espetacularizada da tragédia, oferecendo ao público novos dramas a serem conhecidos. Um exemplo é o tweet que convoca para a transmissão ao vivo da TV Record: “A Record está desde às 09h da manhã com o #PlantãoRECORD, trazendo todas as informações ao vivo sobre a tragédia climática no Rio Grande do Sul. Diversos repórteres estão espalhados pelo estado, mostrando os resgates e as chuvas que seguem na região. O comando é de @RGottino”. Luciano Huck é peça de uma polêmica sobre a possibilidade de ele ter doado uma quantia expressiva aos afetados pela tragédia no RS.

Rede de Atores

Figura  02 –  Grafo de atores sobre a emergência climática no RS.

Após a análise das narrativas predominantes, focamos em investigar quem foram os principais atores sociais na conversação da plataforma nesta segunda-feira (13). A figura 02 (acima) demonstra como estão dispostos os indivíduos que comentaram sobre a situação, ao mencionarem os termos “RS” e “Rio Grande do Sul”. No grafo podemos observar a relação entre os perfis que mais se destacaram pela métrica de likes Twitter/X. Após a estruturação do grafo utilizando, identificamos que a Choquei, Lázaro Rosa, o perfil de humor Joaquin Teixeira e perfil oficial do presidente Lula foram as contas com maior destaque.

A seguir destacamos os 10 principais atores mais relevantes no período analisado:

Dessa forma, obteve-se um panorama sobre quem são os principais perfis que entraram na conversação sobre as enchentes no RS. 

O primeiro perfil observado foi a página de entretenimento e notícias Choquei; o segundo é o perfil do ativista e humorista Lázaro Rosa; já o terceiro é o perfil humorístico “Joaquin Teixeira”, que assumiu o pseudônimo de um homem idoso que comenta sobre política; o quarto ator foi o presidente Lula. O quinto é de influêncer acadêmico. O sexto perfil é de um influencer de direita que se nomeia “ptfóbica”. O sétimo, assim como o quinto, é um perfil de um acadêmico que faz comentários políticos. O oitavo é uma página entretenimento com memes sobre cães. Os dois últimos perfils são institucionais de polícos, o nono do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social e o décimo do deputado federal de Goiás.