Imagens do #protestoes no Instagram e no Facebook: diferenças visuais

22 de julho de 2013

por Labic


O Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) já desenvolve pesquisas voltadas para grandes volumes de dados. Contudo, estas centram-se em dados textuais coletados online. Recentemente, o laboratório passou a voltar-se também para as imagens publicadas em redes. Apresentaremos aqui alguns aspectos metodológicos sobre essa pesquisa, cujo foco está nas imagens dos últimos protestos de junho de 2013 no estado do Espírito Santo.

Esta pesquisa, inserida no projeto Visagem, usou como método de coleta a extração manual das imagens de dois sites de redes sociais: Facebook e Instagram. De cada site de relacionamento foram extraídas cerca de 500 imagens, que compreendiam entre elas fotografias, montagens, cartazes, ilustrações e convocações. Com estas imagens, foram coletados ainda outros dados acerca dos perfis (autores) das publicações, assim como dos endereços online, do tipo de documento e da data de postagem na rede.

 

Imagem 01: mosaico criado a partir de imagens coletadas do Facebook.   Os processos de extração de cada site de rede social são, contudo diferentes. Cada ferramenta de relacionamento online possui características próprias, não somente de exibição, mas também de compartilhamento. Para compreender nosso processo de extração e visualização das imagens veja nosso último post. Nele também explicamos em detalhes o uso do programa ImageJ, usando a macro ImagePlot¹, resultando em múltiplas possibilidades de visualização de ambos conjuntos de imagens coletadas. Apresentamos neste post, algumas considerações iniciais sobre as imagens coletadas e suas correlações.
Imagem 02: mosaico criado a partir de imagens coletadas do Instagram.

Dentre as possibilidades de visualização, temos a comparação dos mosaicos dos dois conjuntos de imagens (Imagem 01 e 02). Visualmente podemos destacar as variações tonais de todas as imagens do Facebook e do Instagram. No Instagram há mais variações cromáticas, sendo que isso deve-se em grande parte em função dos filtros disponíveis no aplicativo. Já nas imagens do Facebook, há nítida separação de tons, que evidenciam a natureza mais “crua” das imagens, uma vez que a publicação das imagens nesta rede social é feita normalmente de modo direto, sem intervenção de filtros, as cenas exibidas têm uma coloração com menor valor de brilho.

Uma primeira comparação permite, então, visualizar o nível de intervenção dos perfis que publicaram as imagens em cada uma das duas redes: há mais modificações com filtros nas imagens do Instagram, inclusive há uma predominância do filtro que causa efeito de “envelhecimento” da imagem, como se as fotos tivessem passado por um processo de deteriorização. Ainda que os dois conjuntos de imagens tenham sido produzidos em situações noturnas, as fotos publicadas no Facebook contêm mais áreas de baixas luzes, enquanto que as cenas do Instagram possuem mais tons claros. Este fato se explica por duas razões: as fotos do Instagram contém enquadramento com pessoas em primeiro plano e alguns cartazes, o que torna a imagem mais clara; e as fotos do Facebook têm em, sua maioria, planos mais abertos (o que contribuiu para termos cenas mais escuras).

Imagens 03: gráficos de brilho médio x perfis de imagens do Facebook.   Outra análise possível dos dois conjuntos de imagens é a partir de um gráfico que dispõe as informações de brilho médio no eixo Y e os perfis que publicaram as imagens no eixo X (Imagens 03 e 04). Deste modo observamos, entre outras informações, como as diferenças nos valores de brilho permitem separar os conjuntos de imagens em sub-grupos. Os tons médios predominantes nas imagens do Instagram fizeram com que as imagens aparecessem mais distribuídas no gráfico, ao contrário do que ocorre com o Facebook, que concentra as imagens em grupos de altas e baixas luzes. O sub-grupo com pouco brilho médio representa as fotos feitas com condição precária de iluminação, ou seja, a maioria. Mas há ainda um grande número de imagens com alto brilho médio. Estas são, no Facebook, cartazes, convocatórias, infográficos, ou análises, que foram publicadas como imagens. Já no Instagram esse tipo praticamente não aparece. Ainda que não sejam fotografias de um acontecimento, mas sim de um objeto, a existência desse grupo de imagens é reveladora do modo de utilização das redes sociais. Se no Facebook há a multiplicidade de tipos de imagens, no Instagram predomina-se um tipo de fotografia. O caráter aberto e fechado – Facebook e Instagram, respectivamente – se reflete no tipo de imagem publicada.  

Imagens 04: gráficos de brilho médio x perfis de imagens do Instagram.

Por fim, o terceiro viés de análise das imagens deste artigo se detém nos grupos de imagens que mais foram publicadas e nos perfis mais ativos. Percebe-se que cinco perfis foram os que mais inseriram fotos em suas linhas do tempo no Facebook, enquanto que no Instagram há apenas um perfil de destaque. Além disso, é possível inferir ainda as principais imagens dos dois conjuntos. Aquelas que foram muito compartilhadas aparecerão alinhadas horizontalmente. Aí temos um fato de distinção entre as duas redes sociais. Enquanto que no Facebook o mecanismo de compartilhamento simples cria um efeito de difusão e de consolidação de imagens-ícones, no Instagram isso praticamente não ocorre. Em virtude disso, o Instagram apresenta suas imagens pulverizadas. O Facebook, por sua vez, mostra algumas fotografias que passaram a ocupar o imaginário local como emblemáticas: a principal ponte do Espírito Santo completamente tomada por manifestantes. A ocupação da Terceira Ponte, que não possui permissão para passagem de pedestres, foi emblemática principalmente no dia 17 de junho, quando pela primeira vez a travessia aconteceu. O fato seria repetido no dia 20 de junho, mas sem os letreiros informativos com os dizeres “Ponte Interditada” e “Por Manifestantes”. A reprodução de imagens mostrando essas duas expressões demonstra o peso destas cenas.

¹ O ImagePlot foi desenvolvido pelo Software Studies Initiative (softwarestudies.com) com apoio do National Endowment for Humanities (NEH), do California Institute for Telecommunications and Information Technology (Calit2), e do Center for Research in Computing and the Arts (CRCA) nos EUA.

Compartilhe

Comentários