“Tem que manter isso, viu?”: a repercussão da gravação de Temer no Twitter

21 de maio de 2017

por Milena Mangabeira


Texto: Luisa Perdigão e Milena Mangabeira

Edição: Ana Paula Costa

Grafos: Fabio Malini e Luisa Perdigão

 

O Brasil parou diante da bomba divulgada no blog do Lauro Jardim, do Jornal O Globo, em que foi revelada a existência de uma gravação envolvendo o presidente da República Michel Temer e empresário da JBS Joesley Batista. A gravidade está em existir na gravação aprovações por parte do presidente dos atos realizados por Batista como um suposto pagamento de propina para um ex-deputado preso e condenado a 15 anos de prisão por corrupção e cooptação de membros do Ministério Público para a realização de articulações que o beneficiasse, além de pedir permissão de usar o nome do presidente quando estivesse em contato com ministros.

Toda essa polêmica deixou a internet em polvorosa, tanto no Brasil quanto em outros países. No país, a grande questão que ronda os usuários da web é a sua capacidade de fazer piadas com tudo o que surge, os conhecidos memes. Mas não deixando o fato de lado, os usuários da rede reconhecem a gravidade da situação e também promovem críticas. Já nos demais, o destaque ficou por conta da repercussão midiática envolvendo a trama política brasileira e norte-americana, que também passa por momentos turbulentos com uma possibilidade de impeachment do presidente recém-eleito Donald Trump, do Partido Republicano. Com as duas situações dos presidentes, a repercussão internacional também destacou a Bolsa de Valores, que teve momentos de instabilidade e queda.   

Para a elaboração desta análise, foram coletados dados com termos em português, inglês, espanhol e francês, chegando ao total de 225.516 tweets originários de 128.133 usuários.

 

A gravação contra Temer: repercussão no Twitter no Brasil

O universo político brasileiro ganha um novo desdobramento a cada dia, em uma trama capaz de abalar as estruturas do País. Deste a noite da última quarta-feira (17), a imprensa é incansável na divulgação de denúncias sobre o envolvimento do presidente da República Michel Temer (PMDB) em esquemas de corrupção. Áudios apresentados pelo empresário Joesley Batista, um dos acionistas do grupo JBS, afirmam que Temer estaria tentando silenciar o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde outubro de 2016, por meio de pagamentos mensais. A revelação deu origem a um escândalo que configura-se como sendo a maior crise institucional do governo Temer até o momento. O presidente ocupa o poder desde 31 de agosto de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).  

Nas redes sociais, a repercussão dos fatos políticos foi grande entre os internautas. No dia 18 de maio coletamos no Twitter 193.150 mensagens originárias de 104.262 usuários, apenas em língua portuguesa. A predominância dos memes nos tweets sobre o escândalo envolvendo o presidente brasileiro são um espetáculo à parte. Não à toa, os perfis de humor têm maior participação e números de retweets entre todos os demais.

O tweet de maior sucesso nesta rede é o seguinte “RT @jaurgy: TWITTER CHEGANDO NO IMPEACHMENT DO TEMER  https://t.co/5vzyBZGPJq” (28.084 rts). Junto a ele, mais quatro tweets de humor completam o top 5 entre as mensagens mais retweetadas sobre o tema. Os perfis @mtesperon, @psicoraculo, @cleytu e @YgorFremo formam o time de humor desta análise.

No top 10, apenas uma mensagem é original de perfil de mídia. @jornalnacional surge entre os tweets mais compartilhados por ter feito o primeiro Plantão da Globo de escândalo político envolvendo o presidente Temer. O vídeo publicado pelo jornal então recebeu um total de 21.545 retweets, ao trazer o seguinte conteúdo: “RT @jornalnacional: Dono da JBS grava momento em que Temer dá aval para compra de silêncio de Cunha, segundo jornal O Globo. Veja a cobertura no #JN às 20h30” (https://twitter.com/jornalnacional/status/864976156537303040).

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Grafo de retweets da repercussão em português

A repercussão midiática ficou por conta dos canais tradicionais de imprensa como @folha e @estadao e @OGlobo, que deu o furo de reportagem ao divulgar a partir do blog do jornalista Lauro Jardim a informação sobre os áudios envolvendo Temer e Joesley. Blogueiros como @GeorgMarques e @BlogDoPim também aparecem divulgando informações sobre o caso. No entanto, o primeiro, que atua em Brasília e faz registros para o jornal independente The Intercept, traz sempre notícias sobre os bastidores e o que está acontecendo na capital brasileira, atualizando informações sobre o clima político e as pautas (RT @GeorgMarques: Deputados pedem que o presidente da Câmara Rodrigo Maia instale imediatamente comissão do impeachment contra Michel Temer – https://twitter.com/GeorgMarques/status/864976407486705666 – 7.877 rts).

Já o segundo, vinculado à revista Veja, tem exibido em seus tweets uma certa cautela  sobre o envolvimento de Temer com esquemas de propina, sempre correlacionando o Partido dos Trabalhadores (PT) e suas figuras de influência. (@BlogDoPim: “Mantega distribuía propinas a parlamentares petistas”, disse Joesley Batista da JBS, segundo Globo. PT celebra Temer delatado mas tá junto. – https://twitter.com/BlogDoPim/status/865025166853771265 – 1.571 rts)  

Diante do fato, as redes sociais impulsionaram hashtags em formato de palavras de ordem para demonstrar sua indignação sobre o que havia acabado de acontecer na política brasileira, o envolvimento de seu presidente em atos de corrupção com provas concretas e aceitas pela Justiça. É quando surgem os indexadores #DiretasJá (20.389) e #ForaTemer (13.780). A primeira hashtags nos traz a lembrança dos movimentos pós-ditadura militar em um período de redemocratização no Brasil em que os brasileiros foram às ruas pedir eleições diretas para presidente da República em 1984. 

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Hashtags mais usadas em português

Não poderiam faltar as hashtags de humor no contexto. #BrasíliaOfCards chegou neste período de coleta ao total de 12.661 menções e a apropriação faz referência à série da Netflix House of Cards, que conta tramas envolvendo poder e corrupção no governo dos Estados Unidos. Inclusive, a página oficial da série tweetou em português “Tá difícil competir” (https://twitter.com/HouseofCards/status/864992970994368512).

A palavra mais usada foi Temer (117.984), até mesmo por ser uma das nossas tags de coleta. Mas, além dela, foram mais mencionadas as seguintes palavras:

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Tabela de palavras mais usadas em português

Entre os links mais compartilhados estão quatro matérias. A principal delas é do jornal Folha de São Paulo destacando a “venda” de ações do governo ao empresário da JBS. Em seguida, temos um link que fala sobre o “ato falho” do âncora do Jornal Nacional Willian Bonner ao quase chamar o presidente Temer de ex-presidente. @Viomundo reavivou notícia sobre perguntas feitas por Eduardo Cunha e que foram vetadas pelo juiz Sérgio Moro, lotado em Curitiba (PR). E, por fim, o portal de notícias Brasil 247 menciona o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) por também ter sido gravado pelo empresário da JBS Joesley Batista.

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Imagem da tabela de URL português

Os termos de coleta utilizados foram: michel+temer, presidente+temer, impeachment+temer, #diretasja, diretas+ja, joesley+temer, joesley+jbs+temer, #brasiliaofcards, gravacao+temer, #foratemer, fora+temer, presidente+brasil, jbs+temer, corrupcao+brasil, crise+politica+brasil, #acaboutemer, #renunciatemer, renuncia+temer.

 

Repercussão na mídia internacional

“Quem cai primeiro: Temer ou Trump?”

Para mensurar o impacto do escândalo político brasileiro envolvendo o presidente Michel Temer na mídia internacional e nos perfis estrangeiros no Twitter, realizamos uma coleta de termos em outros três idiomas: inglês, espanhol e francês. No dia 18 de maio, foram coletados ao todo 32.366 tweets originários de 23.871 usuários. A repercussão internacional foi centrada principalmente em portais de notícias da América Latina, como @teleSURtv e  @eldestapeweb, da Venezuela e Argentina, respectivamente.

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Grafo da repercussão internacional

Em paralelo à crise política brasileira,  quem protagonizou os noticiários mundiais nas últimas semanas foi o controverso presidente dos Estados Unidos Donald Trump, mais uma vez envolvido em escândalo. Desta vez, o jornal The New York Times revelou que Trump pode ter tentado interferir em investigações do FBI sobre a relação entre membros do governo e a Rússia. As comparações com o cenário político do Brasil, maioria em tom humorístico (claro), foram inevitáveis e já esperadas no Twitter.

Além disso, entre os assuntos mais comentados em nível mundial está a queda da bolsa de valores do Brasil. Em questão de horas após a propagação do escândalo político pelos noticiários, a Ibovespa sofreu uma queda de 10,47% em relação ao dia anterior e o dólar subiu 8,5%. A mídia internacional, entre eles portais especializados em mercado financeiro como Bloomberg Markets (@markets), começou a divulgar os impactos econômicos na bolsa de valores em decorrência ao agravamento da crise política brasileira.  

O tweet mais compartilhado nesta rede com 1.458 rts é do perfil @bittersteel01: “[UNITED STATES]: Our president might be impeached because of an alleged handwritten memo implying crime [BRAZIL]: Hold my beer” (http://bit.ly/2q3QSwl). Em segundo lugar está o tweet do perfil @dan_werneck, com 1.268 rts: “Which president is going to fall first? Trump or Temer?  I propose an impeachment race between Brazil and USA.” (http://bit.ly/2qFtF6q). Ambos usuários são do Brasil e tweetam em inglês.

O terceiro tweet com maior número de compartilhamentos é da Ministra das Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodriguez, único post entre os top 15 vindos de uma figura política. Com 1.117 rts, o perfil @DrodriguezVen tweetou: “Sale a la luz pública escándalo de corrupción de @MichelTemer aliado de la derecha fascista venezolana. @Almagro_OEA2015 tendrá algo q decir.”  (http://bit.ly/2q78DtH)

Entre os top 15 tweets mais compartilhados, 12 são de canais midiáticos e de jornalistas. Em língua espanhola estão presentes os perfis dos portais de notícia @CN5, @el_pais, @eldestapeweb e @teleSURtv, e dos jornalistas @pvillegas_tlSUR, @rolandoteleSUR. Em inglês, os perfis de mídia presentes são @guardian e @markets, e o jornalista @ggreenwald.   

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Tabela de top URL internacional

Ao analisar os links mais compartilhados nos tweets na data, é possível identificar o caráter midiático que a rede em questão assume. Entre os top url’s estão links dos jornais El País España (Espanha), Infobae (Argentina), Bloomberg Politics (Estados Unidos), The Guardian (Reino Unido) e Reuters (Estados Unidos). O teor das notícias revela o agravamento da crise política no País após a divulgação das gravações entregues pela JBS e relembra eventos recentes como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e os desdobramentos da Operação Lava-Jato, ou Carwash, como alguns veículos traduzem.

O grafo também reforça essa característica informativa da rede no Twitter. A presença de perfis midiáticos é notória e o destaque maior foi principalmente em jornais latino-americanos (comunidade azul). Em vermelho, observa-se uma predominância de portais de amplitude mundial como a agência de notícias britânica Reuters (@reuters), o The Guardian (@guardian), o Wall Street Journal (@WSJ) e o jornalista Glenn Greenwald (@ggrenwald) do The Intercept (@the intercept).

Apesar do perfil oficial do Michel Temer estar em destaque no grafo, não houve nenhum pronunciamento no Twitter até a data da coleta sobre o escândalo envolvendo o presidente. A presença em evidência do perfil @micheltemer na comunidade azul (Grafo de retweets, menções e replies) se deu pela grande quantidade de menções recebidas no período, principalmente, de portais de notícias e jornalistas latino-americanos, como @TeleSURtv, @pvillegas_tlSUR e @eldestapeweb, além de figuras políticas como o presidente da Argentina Mauricio Macri (@mauriciomacri) e o Secretário Geral das Organizações dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro (@Almagro_OEA2015). Ao todo, o perfil de Temer foi mencionado 7.148 vezes na rede.

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Hashtag mais usadas na repercussão internacional

 

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