Twitter se converteu no sistema nervoso de nossas sociedades
1 de maio de 2011
por Labic
José Luis Orihuela, em 07 de abril de 2011. Tradução: Marcelle Desteffani
Sergio J. Valera me entrevista para o lançamento do blog Que se cuece por Twitter:
O que o Twitter pode fornecer ao jornalismo? E à sociedade em geral?
Twitter é para a mídia uma excelente plataforma para a difusão e viralização de conteúdos jornalísticos, é uma extraordinária ferramenta de monitoração de fontes e tendências e uma estupenda loja online de escrita breve.
Para a sociedade, o Twitter representa o pulso da cultura, um meio de expressão muito simples e acessível e, sobretudo, um radar para captar os assuntos quentes. O Twitter se converteu no sistema nervoso de nossas sociedades, e devemos aprender a utilizá-lo.
O que você diria para aqueles que afirmam que a jornada de trabalho por si só é muito árdua para se ocupar também das redes sociais?
Para os comunicadores profissionais, as redes sociais já deveriam ser uma parte importante da sua jornada de trabalho. Um jornalista não pode dizer que não tem tempo para escutar as fontes.
E aos poucos que ainda duvidam do valor das redes como instrumento para gerar opinião pública e promover mudanças sociais?
Infelizmente não são poucos os que duvidam do valor informativo das redes sociais. Nas redações está se produzindo uma mudança cultural, que ainda levará algum tempo.
As novas mídias, muito mais do que tecnologias, são novos modos de produzir, difundir, acessar e transformar a cultura. É mais fácil aprender a gerenciar as novas mídias que compreender até que ponto transformam as instituições e as profissões que dependem intensivamente da informação.
São menos acirrados os limites da liberdade de expressão no Twitter que nos meios tradicionais?
Na medida em que o Twitter é comunicação pública, os limites são os mesmos.
Será que nessa rede é assegurado o direito à privacidade e à imagem? Teria que ser criada uma legislação própria?
Não se pode legislar sobre tudo cada vez que aparece uma nova mídia, e quando feito, geralmente vem muito tarde e muito errado. As leis devem delimitar com claridade o que não é aceitável em matéria de comunicação pública, e não pretender encobrir a infinita especificidade de cada nova mídia.
Muitos dos problemas que nos trazem as novas mídias, não se resolvem de maneira legislativa, se não de maneira educativa. Temos que tornar séria a alfabetização digital em casa e em todos os níveis de ensino.
De sua experiência, como se consegue mais seguidores?
Antes de tudo, no Twitter não se deve ser obcecado com a quantidade de seguidores, já que a influência de cada usuário depende da qualidade dos vínculos que consegue estabelecer, e não da quantidade de seguidores que possui.
Para incrementar de maneira orgânica ou natural a quantidade de seguidores não é nenhum segredo que é preciso ter um perfil bem definido e publicar regularmente conteúdos de qualidade que agreguem valor à rede.
Como é medido o êxito no Twitter? É algo quantitativo ou qualitativo?
Twitter é algo diferente para cada um de seus usuários. As pessoas abrem suas contas por razões mais diversas e o tipo de satisfação que cada um obtém está diretamente relacionado com o modo como utiliza a plataforma e os efeitos a que se propõe.
Exceto os casos extremos (famosos e meios de comunicação) e patológicos, o êxito no Twitter não é outra coisa que conseguir construir uma comunidade com a qual é possível compartilhar informação e experiências em torno de interesses e valores comuns.
José Luis Orihuela se parece com o @jlori que conhecemos no Twitter? Corre-se o risco de sofrer certa bipolaridade nas redes?
Nossas identidades nas mídias sociais são representações mais ou menos fidedignas de nossas identidades no mundo físico, mas são representacionais. Twitter é um meio público, e consequentemente nos comportamos ou deveríamos comportar-nos como fazemos em qualquer espaço público do mundo físico. As condutas bipolares, esquizofrênicas e demais, não são geradas pelos meios de comunicação social, que só amplificam as coisas boas e más em si mesmas, que as pessoas e as sociedades possuem.
É tão importante criar uma identidade digital hoje em dia?
Tudo o que fazemos online deixa uma pegada, só se trata de ser consciente disto e de atuar de uma maneira responsável. No caso dos profissionais da comunicação pública, há vários anos os empregadores estão mais interessados na reputação digital dos candidatos com base em seus resultados acadêmicos.
Passamos da era da Grande Mídia para a do jornalista individual que trabalha sozinho?
A história da mídia nos ensina que as inovações tecnológicas não produzem substituições, mas trata-se de processos acumulativos. O ecossistema das mídias tem se transformado com cada nova incorporação, mas as mídias anteriores não desaparecem completamente, mas se transformam devido às novas.
Um jornalista que quer ser influente para além de um ambiente comunitário ou mesmo social necessita das mídias. As cabeceiras seguem projetando sua autoridade sobre as audiências e seguem sendo uma reivindicação válida para os anunciantes. Outra coisa é que as mídias, além de suas marcas, tenham que permanecer sendo sempre infraestruturas de produção. Isso é o que tem mudado. Hoje existem grandes jornais que não tem circulação, ainda que nunca poderiam existir grandes meios que não tenham jornalistas.
O que precisa fazer um jornalista para criar sua própria marca?
Primeiro tem que ter uma boa formação, o mercado hipercompetitivo é muito exigente com os profissionais. Em segundo lugar, e já desde a carreira acadêmica de Comunicação, tem que começar a trabalhar um nicho, tem que se especializar em um tema (não em uma mídia), e tem que aprender a falar bem mais de uma língua (além de desenvolver a escrita, o audiovisual, o gráfico e o sonoro).
Todo estudante de Comunicação e todo comunicador profissional deveria ter um blog e uma conta no Twitter. Não só para construir a sua marca pessoal, antes e, sobretudo, para entender a cultura na qual está imerso.
Já que estamos lançando o blog, o que está acontecendo com o Twitter?
O Twitter, se expandindo pela Europa a partir de Londres, dará uma atenção maior aos hispânicos que já constituem uma porcentagem muito alta de sua base de usuários, vai impulsionar as contas pagas para usuários que necessitam de um alto desempenho da plataforma e, em geral vai continuar crescendo.
Quais, você crê, deveriam ser os trending topics de um blog como este, que falará sobre questões interessantes que são comentadas no Twitter?
Os trending topics, por definição, marcam os usuários, não as mídias. Em consequência, precisa-se estar atento às conversações emergentes no Twitter e aos usuários que são prescritores em cada setor. Creio que se pode complementar a ação que outros blogs em espanhol já realizam sobre o Twitter com um enfoque mais didático e mais orientado aos usos profissionais no âmbito do jornalismo.
Comentários