Tragédia no Sul tem mais de 10 milhões de interações durante o fim de semana no Twitter/X

Figura  01 –  Grafo de de grupos de palavras sobre a emergência climática no RS a partir de 20.306 posts publicados no X (ex-Twitter)

O 5º Diagnóstico Diário sobre as narrativas climáticas compartilhadas no Twitter recolheu 20.306 publicações entre o período do dia 10 até 12 de maio. A coleta voltou-se para posts que continham os termos “Rio Grande do Sul”, “RS”, AjudaRS, ‘Porto Alegre’, ‘SOSRS’, ‘ForçaRS’, ‘Pelotas’ e ‘Canoas’. Ao todo, foram mais de 1.393.719 Retweets e 8.413.132 curtidas catalogados nos grupos da figura acima, ultrapassando a marca de 10 milhões de interações.

Depois de extrair esses conteúdos do Twitter/X com o auxílio do software Ford-Labic, empregamos o método de clusterização de palavras, agrupando-as com base em suas interconexões nos posts analisados. Estes grupos foram então visualizados no software Gephi, que os diferenciou por cores, conforme ilustrado na Figura 01. Este mesmo gráfico representa um mapa identificando as narrativas emergentes nas conversas online da plataforma.

Grafo 01 Figura 01

Durante o fim de semana, a narrativa de calamidade predominou nos comentários feitos pelos usuários do Twitter/X, o que é exemplificado pelos pares de palavras: ‘tragedia-rs’, ‘catastrofe-rs’, ‘tragedia-catastrofe’,  ‘tragedia-climatica’ e ‘enchente-rs’. Essa disposição dos pares aparece em virtude da denúncia feita pelos usuários da plataforma acerca das enchentes vivenciadas no Rio Grande do Sul. Os indivíduos compartilham falas que reforçam a ideia de que a situação no RS precisa ser combatida com ajuda de todos: “SOS O Rio Grande do Sul está vivendo a maior tragédia de todos os tempos, e a nossa ajuda pode salvar essas pessoas.”, como é descrito pelos verbos de ordem Ajudando e Fazendo utilizados no corpo dos textos na rede social.

Ademais, ao analisarmos o grafo 01 também pode-se identificar discursos que reiteram uma narrativa de medidas contínuas por parte dos governo federal e estadual de relações vocabulares, como ‘lula-ajudando’, ‘presidente-trabalhando’ e ‘lula-fazendo’, assim como o trabalho dos voluntários que tem sido aclamado pela população. Por outro lado, uma ala do cluster apresenta queixas em relação às ações governamentais que vêm de um cenário político polarizado, onde comentários se baseiam em posições políticas de oposição ao governo federal.

Observando as postagens, uma das publicações com maior destaque feito dentro da narrativa citada é o do Fórum PAN (@forumpandlr) repercutindo uma fala da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP): “A tentativa de figuras públicas de inundar as redes sociais com o discurso de que o “Governo não faz nada” logo após o Governo Lula anunciar R$50 Bilhões para o Rio Grande do Sul é sim no mínimo suspeita”. 

A Rede Globo também foi alvo dos comentários dos usuários, tornando-se um ator relevante ao ser citada em ataques aos jornalistas. “População do Sul expulsaram jornalistas da globo.O povo deu um basta, o tempo de vida das grandes redes de manipulação massiva estão contados”. Outros comentários feitos foram em relação ao Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do Brasil, Paulo Pimenta, vítima de comentários a respeito da decisão do governo em mandá-lo para auxiliar no ocorrido.

Grafo 02 Figura 01

Podemos observar no grafo 02 o predomínio da temática ligada à organização dos usuários para arrecadação de doações monetárias. Analisamos que a relevância os termos “rio-doações”; “rio-precisa”; “rio-vítimas”; “rio-dinheiro” e “rio-solidariedade” são indicativos de uma narrativa ligada às necessidades das vítimas na região. As doações em geral referem-se à “donativos”, “roupas” e “alimentos”, termos que são frequentes no grafo 02. Outros termos ligados à arrecadação monetária também são bem comuns no grafo, em que doações por meio “pix”, “rifas” e “dinheiro” também aparecem nas postagens analisadas. Destacamos como exemplo a atuação do MST Oficial (@MST_Oficial) que se sobressaiu pela atuação nas redes e constante veiculação da chave-pix: “Virgínia Cavendish ressalta a importância da solidariedade neste momento delicado que nossos companheiros e companheiras do Rio Grande do Sul enfrentam. Contribua com nossa Campanha Solidariedade Sem Terra ao Rio Grande do Sul! DOE NO PIX: 09352141000148 #SolidariedadeSemTerra” Outro exemplo de pix veiculado foi o do governo do Rio Grande do Sul: “SOS RIO GRANDE DO SUL! Quem puder dar uma força aos afetados pela tragédia no Rio Grande do Sul faz um PIX para o SOS Rio Grande do Sul. Chave PIX: 92.958.800/0001-38 Banrisul”. 

Assim, podemos compreender que o grafo 02 representa uma forte ligação da temática da solidariedade conectada à relação monetária. Os tipos de doações variam, as necessidades das vítimas em questões materias podem ser observadas contudo se dá maior ênfase as doações financeiras.

Grafo 03 Figura 01

A disputa de narrativas sobre a atuação do governo federal tem presença central. Há uma dinâmica de co-relações entre as expressões “fake-news” e “governo-federal” em narrativas de construção e desconstrução de uma inércia do governo federal. Neste sentido, há a recorrência do par de vocábulos “federal-ações”. Esta relação aparece tanto em postagens mais críticas buscando indicar um ineficiência da atuação do governo federal quanto em postagens que tentam mostrar uma presença positiva em várias frentes, como em menções sobre a atuação do ministério da justiça, sempre indicando o envio de forças de segurança, e na esfera econômica, com a recorrência da menção “50 bilhões”, referentes a um pacote de ajuda para o Estado do rio Grande do Sul, como foi apontado pela conta da TV Brasil: “Em entrevista ao #RepórterBrasil, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, reafirmou o compromisso do governo federal com o Rio Grande do Sul. ‘O governo federal está mobilizando cerca de 50 bilhões. Temos mais de 18 mil pessoas nas frentes de trabalho’, disse a ministra.”

Foi observado que muitas menções ao governador Eduardo Leite o colocam ora como responsável direto pela calamidade, ora como alguém não competente para lidar com a gestão da crise. As críticas mais recorrentes apontam a atuação do governador na política ambiental do Estado. Uma constante correlação entre os termos “governador-política ambiental” é sintetizado no recorrente apontamento de que “operou o maior desmonte na legislação ambiental do Estado” (@andretrig).

Grafo 04 da Figura 01

O grafo 04 da Figura 01 reúne postagens que reiteram uma narrativa de emergência sobre a situação das enchentes no RS, focando especificamente nos comentários que alertam o restante da população sobre um cenário que aponta para a iminência de mais chuvas na região, aumentando o nível da água no Lago Guaíba e afetando diversas cidades, como a capital Porto Alegre. Essa situação evidencia os desdobramentos de eventos climáticos vindouros. As análises e previsões meteorológicas feitas em redes sociais ganham destaque nesse contexto, assim como as comunicações oficiais que alertam sobre os riscos de inundação em diversos locais. Esses vocábulos de alerta são reforçados diversas vezes no cluster por termos como ‘atencao’, ‘urgente’, ‘alerta’ e ‘risco’. Neste grupo, a utilização de pares vocabulares como ‘atencao-cidades’, ‘atencao-chuva’ e ‘atencao-areas’, mostra como as redes sociais estão sendo instrumentalizadas para disseminação de informação sobre os riscos climáticos e a chegada de ajuda na região.
Uma das publicações mais compartilhadas foi de um perfil (@BradockShow) repercutindo a chegada de  mil antenas de internet via satélite da Starlink que chegaram no início da noite de sábado (11/05) na base aérea de Canoas, que incluíam um serviço de dados ilimitado e foram doadas em um acordo entre o empresário Elon Musk e o ex-deputado do RS, Fábio Faria. Outro uso dessa narrativa é em comentários que utilizam o termo ‘risco’ para debater sobre política nacional. “Nossa DEMOCRACIA está correndo um serio risco e todos nós q amamos a liberdade e o Estado Democrático de Direito, devemos ficar atentos e prontos p defendê-la!”; diversas publicações abordam sobre o perigo de fake news compartilhadas em massa. Por sua vez, a narrativa também é apropriada pela direita ao colocar o compartilhamento de notícias falsas a cargo da Rede Globo.

Grafo 05 da Figura 01

Podemos observar no grafo 05 a presença de uma narrativa emocional parental. Observamos que a temática do dia das mães aparece de modo preponderante assim como termos que se assemelha à um léxico religioso como “deus” e “abençoe”. Destacamos como pares relevantes para análise do presente cluster os seguintes. “deus-coragem”, “deus-cuide”, “deus-proteja” e “deus-maes”. Destacamos o post de em comemoração ao dia das mães do presidente Lula:“Dia das Mães, dia de homenagear todas as mães brasileiras. E hoje quero deixar uma mensagem de solidariedade para as mães do Rio Grande do Sul. Vocês não estão sozinhas”. Outro exemplo foi o post da ministra da saúde, Nísia Trindade para o dia das mães: “Neste Dia das Mães, deixo meu carinho especial às mães do Rio Grande do Sul. É um momento de muita dor, de perdas, em que se mostra também um grande espírito coletivo. Que esse dia seja de solidariedade, união e esperança, marca de nossa experiência como mulheres e mães. (+)”

Outro par de termos que observamos relevante são os “abrigo-vulneraveis”, “abrigo-homem”, “abrigo-masturbando”, “abrigo-maes” e “abrigo-criancas”. Referentes à denúncias que ocorrerem nos últimos dias de que haveriam homens abusando de mulheres e crianças. “Até agora 11 homens foram presos por abuso sexual de mulheres e crianças em abrigos de desabrigados das enchentes no Rio Grande do Sul 11!! Realmente é PRECISO de espaços EXCLUSIVOS de mulheres e crianças” 

Assim, observamos que as narrativas abordadas no presente no grupo 05 são referentes à todo um núcleo famíliar em grande parte relacionados ao dia das mães além de trazerem denúncias das vítimas que atualmente se encontram nos abrigos.

Grafo 06 Figura 01

Debate sobre os clubes que realizaram ações solidárias durante os jogos do fim de semana. O Atlético-MG fez um treino aberto no sábado (11) e arrecadou mais de 10 toneladas de mantimentos para as vítimas no RS. Destacamos o post do ministro-chefe da secretaria de comunicação social da presidência, Paulo Pimenta: “Emocionante o gesto do clube e da torcida do Atlético Mineiro, ontem, em Belo Horizonte. O jogo contra o Grêmio, que seria ontem mas foi adiado devido a tragédia no Rio Grande do Sul, foi transformado em um treino aberto, com cobrança de ingresso e toda renda destinada ao nosso” Analisamos que os termos “calamidade”, “parar” e “brasileiro” se relacionam com os pedidos dos clubes do RS – Grêmio, Internacional e Juventude – que reivindicam a interrupção do Campeonato Brasileiro de Futebol por conta da situação de calamidade por que passa o Rio Grande do Sul. Apesar dos apelos, apenas os jogos dos times gaúchos foram adiados. A competição segue normalmente para os demais clubes. Pontuamos a nota publicada pelo time do Grêmio como relevante nesse conjunto: “NOTA OFICIAL Devido ao estado de calamidade pública no Estado, Grêmio, Juventude e Internacional enviaram ofício para a CBF solicitando o adiamento total (incluindo todas as equipes da competição) de até três rodadas do Campeonato Brasileiro Série A 2024. Os Clubes pedem compreensão e zelo para a situação, que impossibilita a realização de atividades esportivas no Estado e afeta o equilíbrio esportivo das competições.”

Grafo 07 da Figura 01

O grafo 07 reúne as publicações no Twitter a respeito do resgate de animais durante as enchentes no estado afetado. Os comentários abordam os diversos animais que aguardavam desamparados nos telhados, esperando por ajuda e são identificados pelos termos ‘animais’, ‘resgate’, ‘resgatar’, ‘sofrimento’. Em específico, alguns usuários ainda repercutem o assunto do cavalo Caramelo, que permaneceu ilhado no telhado de uma casa em Canoas (RS) durante dias. Outra parte do grupo aborda os temores pela falta de arroz nacionalmente por conta das cheias na região; o que foi desmentido logo em seguida pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul e da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) em comunicado à imprensa.