Maior, mas com a base rachada no Facebook
22 de abril de 2016
por Fabio Malini
Por Fabio Malini (publicado originalmente no Medium)
As ruas das esquerdas estão em maior número nas páginas ativas sobre o impeachment no Facebook. Mas, por estarem rachadas, possuem um menor ecossistema de páginas compartilhadas do que a turma da nova direita na rede de Zuckemberg.
Até o dia 14, o Facebook contabilizava 3449 eventos, grupos ou páginas que disputam a narrativa sobre o impeachment. Desses canais, 63% são do campo de esquerda, que demonstra que as ruas da esquerda devem bater todos os recordes de mobilização amanhã, dia 17. Mas o elemento governista ainda racha e gera desconfiança nos movimentos de esquerda nascidos após Junho. Não é à toa que Lula agora tenta recompor essa base social fraturada depois de Junho, anunciando apoio a diversas pautas nas quais o governo Dilma se divorciou, como é o caso de tratar o aborto como questão de saúde pública.
Fiz uma experiência para mostrar como o estilo isentão dos canais de Junho de 2013 dificulta a “guerra de posição” no Facebook contra o impeachment.
Ao juntar todas as páginas do Facebook ligadas às jornadas de junho (vemelho/azul), aos movimentos da nova direita (amarelo) e ao campo governista (rosa), visualizei que o ecossistema midiático Junho no Facebook dá de goleada. É muito mais variado, contudo, as páginas mais populares (em número de likes) são do governismo e da nova direita. No grafo isso fica explícito: os pontos maiores são páginas com mais curtidas no Facebook.
O grafo 01 (acima) foi gerado a partir de um estratégica metodológica simples: “quem curte quem”. A esquerda é maior do que a direita.Mobilizadas, as esquerdas são capazes de agendar continuamente a esfera de opinião no Facebook, principalmente porque dominam a mecânica da ocupação das ruas, que geram conteúdos ótimos para serem compartilhados.
De posse desses ecossistemas, fiz um outra experiência. Recolhi TODAS as páginas, grupos e eventos em torno da votação da admissibilidade do impeachment. As esquerdas dominaram as ruas nos últimos dias: 63% de 3.449 canais no Facebook — em torno do tema – são de esquerda.
Contudo, como se observa no grafo 02, ao identificar todas as postagens nos 3449 canais nos últimos 7 dias, e isolar os posts compartilhados, por exemplo: ‘Dilma republica Lula’, ‘Aécio republica MBL’ , verifiquei que as da direita compartilham um número maior de páginas distintas, apoiando sua narrativa em uma diversidade de canais, embora sejam muito mais dependentes, por ter ocupações de ruas mais esvaziadas nos últimos sete duas, em replicar notícias de veículos nacionais de imprensa.
Do ponto de vista das redes de esquerdas, poucas páginas esquerdistas contidas no grafo 01 estão presentes na rede de compartilhamento da perspectiva contra o impeachment (grafo 02). Por quê? Porque uma boa parcela das páginas esquerdistas de Junho está no estilo “isentona”, cuidando mais de suas causas do que aderindo à narrativa de defesa irrestrita do governo, embora se posicione explicitamente contra toda movimentação da “nova direita”. Efeito prático disso: os usuaŕios do Facebook tendem a ter um número mais reduzidos de páginas contra o golpe aparecendo em seu feed de notícia.
É perceptível, pelo grafo, identificar que os canais dos movimentos não são de compartilhar as notícias da chamada “grande mídia”, que não ocupa um papel central de mediação nessas redes. Talvez isso seja um comportamento mais notado no Twitter do que no Facebook, já que o tempo real do Twitter estimula o compartilhamento (Retweets) dos canais de imprensa, por esses possuírem mais rapidamente a informação factual de maior qualidade.
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