O local e o nacional: as duas duplas redes no #DebateBandRio
26 de agosto de 2016
por Fabio Malini
Dois episódios animaram o #DebateBandRio. O primeiro: a exclusão da paticipação de Marcelo Freixo, movida pelos condidatos Pedro Paulo, Índio da Costa e Flavio Bolsonaro. O segundo: a “queda de pressão” que fez o “Zero Um” se sentir mal e sair da peleja televisiva. Se na tevê tudo ficou morno, a emoção em alta tensão foi deixada para o Twitter, rede social escolhida pela TV Bandeirantes para servir de “segunda tela” para os “telespectadores”.
No grafo 01 (global), há quatro grandes agrupamentos de opinião. O mais forte (rosa) concentra os militantes de Jandira Feghalli, com cerca de 21% das interações entre 4401 usuários. Em seguida, pela ordem, destaca-se a rede azul, de Flávio Bolsonaro, com 14% de interações entre 2890 perfis; a rede amarela, de Marcelo Freixo, com 2577 perfis se mencionando e se retuitando. E, por fim, a rede verde, onde estão da Tv Bandeirantes e os todos os outros candidatos, mobilizando 2.263 perfis no Twitter.
No Twitter, se focarmos em analisar apenas os “entendidos”, ou seja, a rede de militância dos candidatos (que falam mais para si do que para o povão), o que veremos será um fenômeno que podemos chamar de “duas duplas redes”. A primeira dupla se concentra na polarização travada pelos setores da esquerda mais lulista e os da extrema direita militaresca. Em parte este é um conflito trazido do Parlamento, onde esses dois grupos políticos disputam a “narrativa” sobre pautas que se tornaram quentes (impeachment, redução da maioridade penal, cassação de Cunha, estupro e direitos da mulher etc). Com o episódio em que Bolsonaro é amparado por Jandira (que é médica), e a recusa do pai (Jair Bolsonaro) em ver o filho socorrida pela deputada, a primeira “dupla rede” se fortaleceu sobrando ironias e chute da canela nessa “una dupla rede”. Uma virou refém da narrativa da outra. Conclusão: menos debate sobre o Rio, mais discussão sobre golpe, impeachment e estado de saúde de “Zero Um”, demonstrando que as duas candidaturas ocupam o espaço televisivo para gastar com falas que reforçarão a polarização política que se entende – e se estenderá – no Brasil. É válido, afinal, a cidade do Rio não está desconectada do jogo político de Brasília, ao contrário, está “afundada” até o pescoço.
A segunda “dupla rede” é mais carioca. Ampla vantagem para o Freixo, que acabou encontrando uma solução razoável para a exclusão de sua candidatura nos debates da tevê: mobilizou a rua a seu favor. E rua gera emoção, que gera muita opinião compartilhada (em textos, imagens e vídeos). E opinião compartilhada vale muito mais do que qualquer opinião publicada em O Globo, Extra ou O Dia. Se não há compartilhamento em redes sociais, o candidato não existe na opinião pública. Freixo então desponta como o candidato-rede com mais potencial de crescimento emocional online (olha que as celebridades ainda não entraram!!!). Seus atos de rua crescem. E a conversação da rede de Freixo se direciona aos candidatos que estão mais inclinados a debate da cidade, a saber: Molon, Pedro Paulo e Crivella. Freixo então menciona, antenadíssimo com o novo jeito de fazer política na internet: a discussão franca entre arrobas. O problema é que as candidaturas das adversários não tem a mesma musculatura virtual. O debate entre essas redes tendem fazer nascer a novidade, mas terá de brotar dentro dela a polarização para diminuir o custo de atenção para eleitor decidir seu voto. Contudo, é na rede de Jandira-Bolsonaro a maior nascente de memes e tendência de opinião, em função dos fatos nacionais e da relação de tensão interna dessa dupla rede serem muito maiores que as questões locais. Uma xadrez para as estratégias de comunicação políticas das campanhas.
Para ser uma medida eleitoral, os estudos com o Twitter teriam que separar os usuários reais dos spammers em classe, gênero, renda e território do RJ, constituindo assim uma boa amostra para que pesquisas pudessem apontar tendências de voto. Ainda não apareceu isso no Brasil. Contudo, o Twitter serve para demonstrar o nível de organização e o engajamento político que as campanhas possuem (é o lugar onde surge os memes, que chegam só “de noite” no Facebook, onde está o povão).
De qualquer modo, em termos de análise de rede, o Rio de Janeiro apresenta, pelo menos por enquanto, duas duplas redes de perspectiva eleitoral. Uma aponta para questões nacionais e ideológicas; outra, para a disputa da narrativa da cidade. A questão é saber qual das duas emocionará mais o eleitor até o primeiro turno.
Nota Técnica: Coletei os termos #debatebandRio e ‘debate+band’ utilizando a API do Twitter, entre 09h30 do dia 25 a 09h30 do dia 26 de agosto. Ao total, foram 68.549 posts coletados. Foram 23.917 usuários tuitando no período. 38.323 Retweets e 17.947 menções. O grafo veiculado aqui é composto de RTs e MTs. Esse modelo de visualização de interações permite que os atores que se retuitam e que se mencionam fiquem próximos no grafo. O tratamento do grafo foi no Gephi. A coleta, no software Ford, do Labic.
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