Apropriação de hashtags e desvios em imagens do Twitter
24 de fevereiro de 2014 • por Tasso Gasparini
Diariamente, grandes fluxos de dados circulam na internet, relacionados aos mais diversos acontecimentos e pontos de vista. Quando se trabalha com a análise dessas informações, particularmente das imagens, uma peculiaridade chama a atenção no conjunto: imagens de cunho humorístico. O humor é algo de grande presença no ambiente virtual e muitas vezes se apropria do sentido e significado dos mais variados tipos de materiais, como campanhas publicitarias e arquivos pessoais. Um grande exemplo disso é a crescente e constante “memetização” do mundo: detalhes específicos para olhos observadores podem fazer com que qualquer coisa se torne a grande piada da internet por um dado período de tempo. O que antigamente era apenas “engraçadinho”, hoje pode ser um viral em potencial. Isso se dá, em parte, devido a dinâmica própria das redes sociais em que a rápida velocidade das trocas de informações faz com que isso atinja um grande público sem grandes dificuldades.
No campo do estudo das imagens, essa dinâmica ganha um novo aspecto devido a forma com que elas podem ser apropriadas e reutilizadas, ganhando novos sentidos e dialogando com outras temáticas e contextos, permitindo que elas continuem a se propagar pela rede, agora sob novas óticas. Dito isso, são comuns (e curiosos) os casos em que o único elo de uma imagem com a hashtag é alguma referencia ou jogo de palavras que só pode ser compreendida analisando a parte semântica da postagem.
À primeira vista, essas imagens aparecem fora de contexto, e em sua maioria são pouco compartilhadas, tendo pequeno impacto na observação do usuário sobre o conjunto total. Mas, ao serem pensadas como um subconjunto a parte, composto por imagens de cunho humorístico, elas ganham uma força considerável dentro de um dataset. Em alguns casos, uma única imagem ganha importância notável devido a sua repercussão entre os usuários.
O papel dessas resignificações fica mais claro quando nos atentamos à análise feita pelo Labic dos conteúdos compartilhados no Twitter com a hashtag #VemPraRua. O #VemPraRua foi, majoritariamente, uma hashtag para expressar opiniões relacionadas aos protestos ocorridos no Brasil em junho e julho de 2013. Ao todo foram coletadas 85.595 imagens que circularam no Twitter, no período entre 15 de junho e 15 de julho, com a grande maioria estando relacionadas diretamente aos protestos ou à opinião das pessoas. Contudo, havia uma imagem que parecia não ter relação nenhuma com o resto do conjunto, mas mesmo assim foi a décima primeira mais compartilhada. Em seguida confira o ImageCloud, que contem apenas as imagens extraidas em ordem de frequência (retuites e interações), organizadas de forma decrescente da direita para esquerda, de cima para baixo, sendo o tamanho da imagem relacionado a sua frequência. Peço atenção especial para a primeira imagem da terceira linha, que foi a décima primeira mais frequente.
Tal imagem foi publicada através do seguinte tuite:
#VemPraRua pic.twitter.com/PAPoXTYys3
— Frases Transa (@FrasesTransa) June 18, 2013
Houve uma clara intenção do usuário de fazer uma brincadeira com a frase “vem pra rua”, postando uma imagem em que pessoas estão aparentemente tendo relações sexuais em local público. Essa imagem foi uma das mais frequentes na rede do #VemPraRua no Twitter. Mesmo fugindo ao caráter de protesto e convocação da rede, esse foi um tuite com o qual muitos usuários interagiram e, sem perceber, deram aos poucos um grande número de compartilhamentos à imagem.
Isto pode ser explicado por meio de uma sucessão de eventos: o usuário @FrasesTransa, utilizou uma hashtag que estava em alta num determinado momento para publicar uma imagem que, mesmo não tendo relação direta à temática em questão, daria visibilidade ao tuíte e proporcionaria maiores interações para quem postou, dentro da própria lógica do Twitter. Logo, outros usuários interagem com a imagem, e essas interações individuais (retuites, respostas e favoritamentos) acabam por dar relevância e força à imagem.
Esse tipo de situação se repete em várias pesquisas que lidam com esses grandes volumes de dados online. A apropriação e resignificação de uma hashtag é algo comum e cujo poder de propagação, muitas vezes, só é percebido com a análise desses grandes volumes. O número de interações que uma postagem possui pode ser compreendido mais facilmente visualizando a sua relação no conjunto. Uma imagem considerada um desvio pode ser tão relevante em uma rede quanto aquelas que são vistas como as mais importantes no universo da hashtag em questão.
Comentários